Você já ouviu falar? É bom ouvir logo!
Por Vivian de Albuquerque
O que vem primeiro? A pergunta? Ou a resposta? Você alguma vez já parou para pensar sobre isso? Noutro dia, quase que sem querer, esbarrei numa palavra que me deixou bastante curiosa: serendipidade. Depois que fui buscar o significado, fiquei pensando em como pude ficar tanto tempo sem saber o que era.
Sempre achei que eram as perguntas que moviam o mundo. Minha mãe já dizia: “quem tem boca, vai à Roma”, referindo-se a perguntar sempre que não se sabia a resposta. Mas volto à pergunta: o que vem primeiro, afinal? A pergunta… ou a resposta?
Imagino que, na maioria dos casos, o que vem primeiro é a pergunta mesmo. Mas e naqueles casos nos quais a resposta vem primeiro, para daí gerar uma pergunta? Lendo um pouco mais sobre serendipidade, descobri que é assim que surgem grandes inovações. Serendipidade refere-se àquelas descobertas que acontecem quase que por acaso. Poderiam até receber o nome de acidentes felizes.
Noutro dia, minha filha estava com um sapato novo, mas que ficou bastante sujo. Reclamei várias vezes com ela para que lavasse. Na idade da vaidade em que está, cuidando daquelas primeiras espinhas no rosto, decidiu usar uma receita antiga: Leite de Rosas. Passando na testa com um algodão, deixou sem querer cair sobre um dos sapatos. Resolveu esfregar e descobriu algo revelador: Leite de Rosas limpa não só o rosto, mas também sapatos de tecido. O dito do sapato ficou limpinho, como novo. A descoberta a fez vibrar. Melhor que lavar o sapato era passar rapidamente um algodão com o produto.
Tudo bem… a descoberta não traz grandes benefícios à humanidade, mas trouxe um pouco mais de paz aqui para casa. Mas o que dizer da penicilina, descoberta por acaso por Fleming ao esquecer uma de suas culturas de bactérias ao sair de férias; ou do post it que surgiu a partir de uma cola que simplesmente não colava?
Pois é assim que o antigo conceito de serendipismo, lá das antigas, passou a ser usado para definir uma forma especial de criatividade, ou até uma das muitas técnicas de desenvolvimento do potencial criativo de uma pessoa – principalmente os adultos. Nos novos treinamentos, basta deixa-lo livre com uma situação, alguns materiais e esperar dele perseverança, inteligência e senso de observação, que a mágica acontece.
Isso porque “O acaso só favorece a mente preparada”, já dizia Pasteur. Exige observação. Já não aconteceu com você de ver uma nova ideia, de alguém – infelizmente não sua – e de você pensar: “Porque não pensei nisso antes?”.
Será que não pensou ou não se atentou ao que pensou? Vi no facebook outro dia um senhor explicando como fechar um saco de feijão aberto usando uma faca e um isqueiro. Que ideia isso me deu? Um fechador de sacos de plástico para as donas de casa, usando metal e calor. E por que não?
Acredito que seja assim que as empresas lançam as inovações. Ou que deveria ser assim. Observando as necessidades dos cliente e outras coisas que aparentemente não têm nada a ver, mas têm tudo a ver.
O convite que faço a quem quer empreender pela primeira vez ou voltar a empreender em seu negócio já existente com inovação é para que observe mais. Aprenda com os erros ao invés de lamentá-los e acredite que, muitas vezes, a resposta pode vir antes da pergunta. Mas é preciso escutá-la. A inovação criativa pode estar onde você menos espera. No Leite de Rosas, na cultura esquecida de uma bactéria ou num projeto de aparente insucesso de uma cola que não cola. O fato é que todos estes produtos estão aí e vendendo a rodo.
O termo serendipidade surgiu da palavra inglesa serendipity, criada pelo romancista inglês Horace Walpole, em 1754. Numa carta destinada ao amigo diplomata Horace Mann, ele contava sobre a impressionante história persa, “Os Três Príncipes de Serendip”, que leu quando ainda era criança. O conto retratava as aventuras de três príncipes da Ilha Serendip (atual Sri Lanka) que viviam fazendo valiosas descobertas de forma inesperada. Em um dos casos da história, o rei de Serendip, em seu leito de morte chamou os filhos dizendo que além de lhes dar seu vasto reino, deixaria um grande tesouro enterrado próximo à superfície. Após a morte do pai, os príncipes reuniram todos os homens do reino para cavar e revolver o solo de todo o país e após anos e anos, não encontraram nenhum tesouro. Para a surpresa de todos, as terras do reino tinham sido tão revolvidas, que as colheitas dos anos seguintes se tornaram as maiores de toda a história. Pela capacidade de observação e sagacidade, os príncipes de Serendip conquistaram grandes tesouros, sem que especificamente estivessem buscando por eles. A essa capacidade dos príncipes, Walpole deu o nome serendipy: “descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso”.
Vivian de Albuquerque é treinadora e palestrante, sócia da KreativFactory. Email: vivian@kreativfactory.com.br
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